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quinta-feira, 17 de maio de 2012

FILOSOFANDO SOBRE POSSIBILIDADES


Parece-me uma tendência do ser humano de valorizar o que não tem ou, em sentido inverso, desvalorizar o que tem. Dessa forma, acaba reconhecendo o valor do que tinha, apenas quando perde. Isso é uma constatação antiga. O que me chama a atenção é que, ao invés de perder para depois dar valor, o individuo pode imaginar-se sem a “coisa” (em sentido genérico, porque se aplica a tudo – pessoas, situações, emprego, etc) e então decidir se prefere viver sem ela ou com ela.
Mas não basta imaginar apenas, como quando se imagina correndo nas areias da praia ao sabor do vento... precisa-se imaginar em quantas conchas quebradas poderá pisar ao longo dessa corrida, se o vento no rosto é gelado, se é quente e qual a sensação exata em cada uma das opções possíveis. É preciso imaginar se alguém mais estará na praia e eventualmente fará necessário um desvio, evitando uma trombada. E se esse desvio vai fazer com que uma abelha morta na beira da água (muito comum, se repararem) e ainda com o ferrão, vai entrar direto no seu pé, porque você não a notou ali.
É preciso imaginar se nessa corrida você estará de biquíni, de saída de praia ou de roupa esportiva. Pois se estiver de biquíni, terá que lembrar de passar protetor (sim! a realidade queima!), a menos que o tempo esteja nublado, daí seria melhor uma roupa esportiva, para evitar um resfriado pelo vento gelado. Mas, isso tudo depende do que você imaginar. E a imaginação não fica tão poética quando envolve detalhes, certo?
Acontece que a chave é justamente essa - deixar de lado a poesia e focar na realidade possível. Porque ficar imaginando cenários poéticos, diferentes da situação atual, é muito fácil... vivê-los na prática é completamente diferente. Não estou dizendo que não possa ser agradável um cenário diferente do atual, mas certamente não terá toda a poesia imaginada.
É preciso imaginar com consciência para realmente “viver” antes de tomar uma decisão. Por isso que gostei TANTO do livro “Quando Nietzsche Chorou”...
 Como todo grande pensador, o psicólogo (fictício)de Nietzsche no livro, vivia essa incerteza de possibilidades que nos espinha todos os dias, atiçando por uma mudança de rumo que nem sempre é tão romântica quanto a imaginada. Ele conseguiu se imaginar na situação de tal forma, que chegou a pensar tivesse sofrido algum tipo de amnésia e de repente acordado numa realidade completamente diferente. Provou tudo que quis daquele “imaginário”, de forma bastante realista e quando finalmente “acordou”, pôde decidir com resolução sobre o caminho a tomar.
Embora toda mudança de rumo tenha sua lição, algumas podem ser aprendidas sem a perda do que ainda se possui e o sofrimento de um eventual arrependimento. Basta imaginar corretamente. Mas dizer que é preciso “imaginar corretamente” parece quase como dizer “divirta-se com moderação”! Não há diversão com moderação! Na diversão está implícito o frio na barriga do perigo, a beleza da incerteza, a malandragem da pequena contravenção... e nada disso se aplica à moderação!
Talvez por isso, imaginar corretamente, seja algo muito difícil de se fazer... a imaginação tem o condão de tornar-se poética, ainda bem! O problema é que, talvez, tenhamos que perder muitas coisas pelo caminho, até harmonizar a imaginação com a realidade.
E talvez, uma vida de moderação acabe de fato eliminando o perigo, a incerteza e a contravenção... mas, igualmente, o frio na barriga, a beleza e a malandragem...
E, ainda, saber imaginar corretamente, pode tirar o brilho das possibilidades... ou então, torná-las definitivamente a coisa certa a se fazer!
Quem disse que seria fácil? RS

terça-feira, 15 de maio de 2012

Quando a maternidade não acontece


Gente, recebi esse texto de uma amiga (mi, fiel comentadora aqui rs) e gostei mto! não tem como não postar...rs

13 mai, 2012 - 09:13 - por: Dodai Stewart

Cameron Diaz, integrante do filme O que esperar quando você está esperando (sobre tudo o que acontece na gravidez, previsto para estrear no segundo semestre por aqui, com Rodrigo Santoro no elenco), tem 39 anos de idade, é solteira e não tem filhos. Ela não sabia que as coisas seriam assim.

“Eu achei que seria casada e teria dois filhos quando chegasse aos 21 anos”, explica Diaz na edição de junho da revista Redbook. “Acho que me sentia na obrigação de seguir o que minha mãe tinha feito.” Mas ela tem confiança na decisão de seguir um rumo diferente:

“Minha carreira estava começando a decolar e havia ainda muitas coisas que eu queria fazer (…) Então, aquele sonho [da maternidade] foi destruído bem cedo. Depois disso, eu nunca mais coloquei um prazo para nada na minha vida.”
– mulheres vibrantes de 45 anos, que usam tênis e vão a shows, estão muito parecidas com as mulheres de 25 anos. Com a diferença de que, para uma mulher, seu corpo aos 45 é bastante diferente do que era aos 25 anos. A fertilidade é uma janela que se fecha.
Ela é uma de muitas mulheres que, quando jovens, pensavam em ter filhos “um dia”… Aí, quando amadurecem, descobrem que esse dia nunca chega.
Talvez isso seja exacerbado pelo fato de que, cada vez mais, nós estamos ficando “mais jovens” por mais tempo

Num artigo publicado na seção Motherlode do The New York Times no fim de semana passado, a blogueira Eve Lederman escreve: “Eu me vi com quarenta e poucos anos, sem um companheiro e com sete bilhões de pessoas no planeta dizendo ‘Be-bê, be-bê…’ em coro. Não porque eu queira um filho, e não porque eu não queira. É mais o fato de que eu não sei se não quero um mesmo.”

Ambivalência. Indecisão. Medo.

Lederman coloca a coisa nos seguintes termos:

“Eu tenho medo de encarar a maternidade sozinha, com poucas economias e morando num apartamento minúsculo num prédio de três andares sem elevador. Eu também tenho medo do tédio de ter um filho contando com um marido, um bom emprego e uma casa legal. E o que eu mais tenho medo é de sentir falta da conexão inexplicavelmente profunda com uma criança, algo que rende histórias para a vida inteira.”

É claro que, em algum momento, não tomar uma decisão é a decisão.

E, se uma mulher decide não ter filhos, ela frequentemente se sente forçada a explicar sua decisão. Cameron Diaz afirma:

“Tenho certeza de que muita gente esperava que eu tivesse um filho na minha idade atual. Mas não é o que eu quis para a minha vida até agora. Nós ainda vivemos num mundo fortemente chauvinista. Existem padrões segundo os quais as pessoas vivem e, se você vive fora dele, isso deixa os outros desconfortáveis – eles têm de olhar para si mesmo e questionar suas escolhas.”

No site da Redbook, essa citação é acompanhada por uma foto de Cameron e suas colegas de elenco usando saltos altos e vestidinhos brancos. Ela está empurrando um carrinho de bebê. E rindo.

Mesmo assim, existe uma diferença entre escolher não ter filhos e simplesmente acordar um dia e perceber que não vai acontecer com você. Algumas mulheres sabem com certeza: eu não quero filhos. Outras mulheres trabalham, amam, vivem, para um dia se dar conta de que cruzaram uma fronteira invisível e chegaram a um outro país, em que tudo parece igual – mas você é a mulher que nunca teve filhos.

Apesar de Lederman relatar que 46% das mulheres americanas não têm filhos até os 44 anos, essas estatísticas se referem às mulheres da faixa etária dos 15 aos 44 anos. Se olharmos para a faixa dos 40 aos 44 anos, somente 18% não têm filhos. É esperado que seja perturbadora e estranha a percepção do que aconteceu,  e reconhecer o que você é: uma mulher que não é mãe.

(Eu estou no último ano dos meus “trinta e alguma coisa”, sou solteira, não tenho filhos, e estou encarando a possibilidade muito concreta de que posso nunca ter um.)

Ambivalência. Indecisão. Medo.

Ao ver minhas amigas e colegas se casarem e terem filhos, eu às vezes me sinto como a última pessoa numa festa. Todo mundo foi para casa, e o que eu ainda estou fazendo aqui?

Na seção de comentários do artigo de Lederman para o Times, uma mulher de 46 anos “sem filhos e sem namorado” que escolhe se chamar Janis descreve sua experiência do outro lado da linha invisível.

“É uma coisa estranha. Eu realmente sinto um isolamento, mas é mais ou menos o inverso do que a maioria das pessoas acha que é. Para a decepção de muita gente que eu conheço, não é para mim uma questão de querer ser ‘normal’, com marido e filhos. Eu nunca fui lá muito feminina ou ‘normal’ em nenhum momento da minha vida, nem quando criança. Mas o que eu queria era que houvesse mais pessoas do lado de cá. Eu tenho uma vaga sensação de ser sem-teto por não ter uma ‘tribo’ própria, mas eu também não quero ser da tribo deles. Eu só gostaria de viver num mundo que não fosse 100% balizado pela satisfação de desejos que não são os meus. Eu frequentemente me sinto como membro de uma espécie que se reproduz assexuadamente e que habita esse planeta por engano, metaforicamente falando. Eu não quero ser igual às pessoas que são de fato da minha espécie, mas eu gostaria de TER uma espécie própria pelo menos.”

Sentir-se isolada, como uma aberração, sofrendo pressões sociais, é certamente parte do problema. As mulheres são inundadas com propaganda envolvendo a maternidade, seja a especulação sobre se a celebridade X ou Y está grávida ou as histórias sobre como está a perda do “peso pós-gravidez”, ou os amigos do Facebook que ficam postando ultrassonografias, fotos de barrigas e de bebês, vídeos de criancinhas e boletins escolares. A narrativa que os tabloides americanos constroem sobre Jennifer Aniston – na qual ela não é uma pessoa, mas sim um personagem sorridente e em forma, que no fundo é profundamente deprimida por não ter marido e filhos – é uma lembrança sombria de que, se você não está fazendo o que esperado – encontrar um parceiro, acasalar e se reproduzir – você deve estar fazendo alguma coisa errada. Na verdade, alguma coisa está errada com você.

(Ambivalência. Indecisão. Medo.)

Se você realmente quer uma coisa, então faça acontecer. Isso nós sabemos. Mas e se você não tem certeza do que quer? E se há circunstâncias mitigantes? E se o dinheiro, o tempo, a saúde (física ou mental) ou o companheiro necessários simplesmente não estão aí? Como continuar? O que impede as mulheres sem filhos de passar seus dias sentadas, olhando pela janela e chorando a injustiça e a falta de sentido de tudo isso? Num mundo perfeito, isso nem seria uma questão relevante, seria uma coisa tipo “você faz o que quer fazer, eu faço o que quero fazer, tudo bem etc.” Mas o mundo real é assustador: você tem de ter sucesso, trabalhar duro, contribuir para a sociedade de maneira significativa. Depois de batalhar muito para se estabelecer não só com um emprego, mas com uma carreira, vêm as críticas: O quê? Não vai ter filhos?

Não ter filhos, ter filhos, deixar a vida tomar a decisão por você, arrepender-se, desejar, as porcarias das manchetes sobre a Jennifer Aniston – é coisa demais. Tudo isso diz que uma vida não analisada nos mínimos detalhes não vale a pena ser vivida. Eu diria que, ao contrário, a vida que se analisa até o último fio de cabelo é sufocante e sem emoção. Às vezes é preciso apenas ser.
Louisa, que também comentou o texto de Lederman, escreve assim:
E, ao invés de me imaginar como a última a sair da festa, é importante enxergar para além do drama de ser ou não ser mãe e reconhecer que, deste lado do muro, há muito amor, diversão, noites adentro, manhãs adentro, viagens, compras, alegria, indulgência, prazer e realizações. Tudo isso pode não ser celebrado, reverenciado ou aparecer na TV e nas revistas da mesma forma que a narrativa sobre a maternidade, mas está lá. Isso existe. Se eu acabei ficando para trás nessa festa ao invés de ir para a próxima, essa aqui ainda é uma festa. Se nós não somos elogiadas, devemos elogiar a nós mesmas.
Nós parabenizamos as mulheres quando elas engravidam; por que não parabenizamos as que não ficam grávidas?

“Eu tenho 60 anos e não tenho filhos, tenho dois enteados. Como mulher que escolheu não ter filhos, eu tive sorte, comparada a outras que conheço: não sofri pressão da minha família e acabei encontrando minha tribo, ainda que compreenda Janis quando ela diz que se sente ‘sem-teto’ às vezes.

Mesmo assim, ninguém nunca me disse ‘Obrigado. Obrigado por dar ao planeta o maior presente possível ao não ter tido um filho, o que é maior do que qualquer outra coisa, como não ter um carro ou não viajar de avião.’ Ninguém dá nenhum crédito aos que não têm filhos.

Ajudar o planeta não foi a razão pela qual eu não tive filhos, claro; isso não era algo com que minha geração se preocupava, 30 e tantos anos atrás. Mas foi o resultado. E eu me ressinto por ninguém reconhecer isso.”
(http://jezebel.uol.com.br/quando-a-maternidade-nao-acontece/)
Tradução: Patricia Fincatti