Que
diferença eu faço? Essa é a pergunta que persegue o ser humano desde quando percebeu
sua existência no mundo. Dizem os cientistas que somos os únicos seres que
raciocinam sobre a própria existência. A partir do momento em que divagamos
sobre quem somos, surgem indagações implacáveis: “Por que estamos aqui?”, “Qual
o sentido da vida?”, “Que diferença eu faço?”.
Tentar
responder a essas perguntas ocupou a vida de grandes pensadores ao longo dos séculos.
Fernando Pessoa disse: "Entre mim e a vida
há um vidro tênue, por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida, eu não
lhe posso tocar".
A verdade é que cada um de nós possui um conceito do que seja a vida e da diferença que fazemos, ao estendermos a mão para tocá-la.
Alguns
podem dizer: “Eu faço diferença porque sou um bom pai de família”, “Eu faço
diferença porque cuido dos animais”, “Eu faço diferença porque escrevi um livro”
e todos estão absolutamente certos. O problema surge quando se pensa: “Eu não
faço diferença”.
Como
a borboleta que bate as asas e cria uma tormenta do outro lado do planeta, tudo
e todos fazem diferença no mundo.
Às
vezes precisamos de insights, momentos
de clareza de pensamento, que nos permitem perceber nossa real importância.
Lembro-me
de uma tarde de trabalho como outra qualquer, cheia de afazeres, de
responsabilidades a serem cumpridas e expectativas a serem atendidas. O Fórum é
realmente um lugar de expectativas. Pessoas de todos os cantos e de todos os
tipos esperam pela solução de problemas que são só delas e, justamente por
isso, têm a maior importância do mundo.
Fui
chamada ao balcão para atender uma senhora acompanhada do neto e que aguardava
a entrega de um termo de guarda.
Eu
a informei que o termo estava pronto e faltava apenas a assinatura da Juíza, o
que já providenciaria.
Ao
ouvir minha informação, o preocupado garotinho perguntou à avó: “E se a Juíza
não assinar?”. Eu discretamente me detive para ouvir a resposta: “Se ela não
assinar, você não é meu”, disse a avó com triste ternura. O garotinho disparou
temeroso: “Daí eu vou ter que voltar para aquela mulher!?” e imediatamente
levantou os olhos para mim, como que indagando se o papel seria mesmo assinado.
Eu lhe dirigi um sorriso sincero e caminhei apressada ao gabinete, em busca do
que para mim não era mais uma simples assinatura.
De
volta ao balcão, encontrei um garotinho saltitante aguardando pelo tão esperado
papel. Entreguei o termo assinado à avó e pude notar as lágrimas em seus olhos
ao me agradecer com um sorriso cheio de significado.
O
nó que se formou em minha garganta não foi suficiente para segurar as lágrimas
que também surgiram nos olhos.
Que
diferença eu fiz nesse dia? Não sei dizer ao certo.
Outra
pessoa poderia ter redigido aquele termo? Sim. Outra pessoa poderia ter
entregado aquele termo? Com certeza. Mas, o fato é que fui eu que fiz. Os
sorrisos foram direcionados a mim e as lágrimas, eu que partilhei. Essa foi a
minha diferença naquele dia. E esse singelo momento de expectativa atendida, de
problema resolvido e de felicidade incontida ficarão para sempre na minha
memória, como um lembrete constante de que eu posso fazer a diferença!
Nas
palavras do poeta Vahan Tekeyan:"O que me resta da vida? Como é estranho,
só me resta aquilo que dei aos outros".
NAMASTÊ!