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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O mundo é grande demais para nascer e morrer no mesmo lugar!

Gente, vou postar um texto lindo e muito bem escrito que vi, de uma brasileira morando no exterior, em dúvida se volta para sua terra natal.
Acho que vale muito a reflexão sobre o que estamos fazendo de nossas vidas e especialmente de nosso país.
Eu nem morar fora morei, só algumas viagens esporádicas e já me senti como ela fala no texto... é muito triste, especialmente pra uma pessoa que sempre se considerou patriota... vale refletir!!


“Não vou enumerar aqui a quantidade de problemas, principalmente sociais, ambientais e econômicos que existem no Brasil, uma porque depois dessa série de posts não vale a pena repetir, outra, porque todo mundo está careca de saber que no nosso país falta segurança, falta educação e saúde pública, falta tolerância, falta tanta coisa e sobra outras mais, como desigualdades, exclusões, injustiças.


Não sei quando volto ao Brasil pelo simples fato de que não sei se quero voltar ao Brasil. Gosto muito da vida que levo na Espanha. A principal lição de vida que aprendi nestes 6 anos de Sevilha é que não é pobre o que menos tem, mas o que menos necessita. Aqui aprendi que não preciso de luxos para viver feliz, que com pouco dinheiro no bolso posso me divertir, ter uma vida cultural relativamente agitada e ainda viajar de vez em quando. Aprendi que a felicidade não se encontra em shopping e que autoestima não está diretamente relacionada com chapinha e unhas bem feitas. E não que no Brasil eu tivesse um padrão de vida alto ou fosse uma patricinha de carteirinha, mas depois de viver 6 anos em uma casa com móveis alugados, nossa percepção de vida muda muito.


Futilidades à parte, aqui aprendi que se trabalha para viver e não se vive para trabalhar. Isso significa realmente aproveitar a vida. A grande maioria do pessoal aqui do sul trabalha o justo e necessário para poder garantir um lazer a nível máximo, um happy hour no final do dia, uma escapada no final de semana e umas férias de verão de um mês. Horas extras, 60 horas de trabalho semanais, um final de semana em casa atolado de prazos esgotados? Não que isso não aconteça, mas é coisa rara. Conheço funcionários públicos que pedem redução de salário para poder ficar uma hora a mais com os filhos em casa.


Aprendi a deixar o carro na garagem (leia-se estacionado na rua) e usar o transporte público. Voltei a aprender a andar de bicicleta. De onde eu moro eu chego a qualquer parte da cidade em menos de 40 minutos de pedalada (e Sevilla não é uma cidade pequena, tem quase 800 mil habitantes fora a zona metropolitana). Não tem preço poder ir e vir respirando ar fresco (ok, nem sempre, afinal, estamos numa zona urbana) e de quebra fazer exercícios.


Aprendi a ser tolerante, a respeitar mais as diferenças, a descobrir a diversidade de raças, culturas, estilos de vida e pensamento muito diferentes dos nossos, brasileiros, muitas vezes machistas, egoístas e hipócritas (como também já foi citado nos posts dos meus colegas de Brasil com Z). Aprendi que viver no mesmo edifício que o motorista do caminhão de lixo e comer no mesmo restaurante da faxineira da piscina é uma coisa absolutamente normal. Aprendi a respeitar famílias com dois pais, duas mães e até duas mães e um pai, a não falar mal de uma mulher escabelada na padaria, a não ficar horrorizada com um «modelito» fora do «normal». Aprendi que o normal pode ser qualquer coisa, que cada pessoa é um mundo e que cada um de nós cuida do seu próprio mundo pessoal, sem precisar de aparências ou máscaras. E ao mesmo tempo aprendi que todos devemos cuidar do nosso mundo coletivo, que a força do ser em conjunto é muito importante e que, melhor de tudo, dá resultados.


Aprendi que as diferenças nem sempre geram integração, que podem causar desigualdades por estes lados também. Que imigrante é uma classe de pessoa que tem que correr atrás do prejuízo, que tem que lutar muito para conseguir se estabelecer e que, por questões que fogem as suas capacidades, nem sempre consegue o seu lugar ao sol. Aprendi que o ser humano, não importa a sua nacionalidade, está longe de ser perfeito, e apesar de tanta tolerância e igualdade por um lado, pode ser bastante preconceituoso e injusto por outro.


Então, quem em sã consciência depois de aprender tantas coisas e, acima de tudo, depois de viver tudo isso no seu cotidiano sente vontade de voltar a morar no Brasil? Quem, depois de aprender a cruzar uma rua pela faixa de segurança sem nem precisar olhar para os lados ou se acostumar a voltar para casa a pé às 3 da manhã, desfrutando do cheiro das flores de laranjeira e do silêncio da madrugada sem precisar olhar para trás, pensa um dia em regressar à sua pátria amada? Quem depois de dar risada (ou se irritar, no meu caso) com as crianças de uniforme do colégio jogando bola em plena praça central, de se habituar a pegar a sua bicicleta e fazer um piquenique no parque público ou de ver uma roda de velhinhos e velhinhas tomando cerveja (sem álcool) felizes e cheirosos no mesmo bar que a garotada de 20 anos pode cogitar a hipótese de não viver mais essas coisas, aparentemente tão banais, mas que no Brasil há muito tempo não existe?


Claro, nem tudo são rosas… Não sou casada com espanhol, não tenho meu diploma de arquiteta homologado para assinar projetos na Espanha (se bem que na atual situação econômica, «projetos» é coisa rara por aqui), vivo com um visto de estudante que não me dá direito à nacionalidade, não tenho direito à saúde pública (apenas atendimento de emergência) e pelo menos nos próximos anos não vejo nenhum futuro profissional na minha área (nem eu, nem 20% da população ativa do país, nem a maioria absoluta dos jovens recém-formados). Não tenho filhos espanhóis e em teoria, nada me prende aqui. Mais cedo ou mais tarde (cada vez mais é mais cedo, já que estou no segundo ano do doutorado) vou ter que tomar a fatídica decisão: volto ou não volto ao Brasil? Qualidade de vida ou um bom trabalho (ou um trabalho qualquer)?


Meu consolo é que este mundo é enorme, como já dizia o poeta, «grande demais para nascer e morrer no mesmo lugar». Confesso que não sei se tenho o mesmo ânimo para recomeçar tudo de novo em um país novo, mas quem disse que se eu voltasse ao Brasil eu não teria que recomeçar do zero? E entre recomeçar com qualidade de vida e recomeçar rodeada de violência, desigualdades e injustiças, só fico na dúvida porque neste último caso também estaria rodeada de muito amor, amigos e família (únicos motivos reais que me fazem pensar em voltar a viver no Brasil).



Enfim, todo mundo deveria ter a oportunidade de sair da sua bolha, ver o mundo com outros olhos, aprender novos valores e, quem sabe, voltar e conseguir lutar por um lugar melhor. O Brasil é um país com duas caras, lindo e horrível ao mesmo tempo. Sei que sou uma privilegiada por estar onde estou e que muita gente se tivesse condições já estava com as malas prontas e a passagem comprada para se mandar… e a gente aqui falando em voltar. Adoraria poder voltar e tentar fazer do meu Brasil um lugar melhor para se viver, mas ao mesmo tempo me sinto muito ingênua em pensar que isso poderia ser possível.


Queria viver entre os «meus», mas a cada dia que passa me sinto menos parte dos que ficaram. Já não penso em altos salários, altos cargos, muito dinheiro para ser feliz. Embora muita gente siga pensando ao contrário, dinheiro não é e nem nunca foi garantia de felicidade. Felicidade para mim é isso, poder levar a vida sem pausa, mas sem pressa, sem paradeiro se eu assim quiser. Posso não estar com os bolsos cheios, mas percebi que não necessito nada disso para ter uma vida confortável, alegre e divertida.


Tive que cruzar o oceano para perceber isso? Pode ser que sim, e continuo aproveitando esta grande oportunidade de fazer parte de outro mundo, que apesar de todos os seus problemas, consegue ser mais justo e respeitoso que o mundo onde nasci.”


http://www.coisaparecida.com/2011/07/por-que-e-tao-dificil-ter-vontade-de-voltar-a-viver-no-brasil/

3 comentários:

  1. Esta não é a única pessoa de quem já fui obrigada a repassar verdades tão cruéis sobre o Brasil,diante dos meus olhos. Tenho amigos nos EUA, Espanha, Portugal,Inglaterra, Suíça, Canadá, que jamais cogitam em voltar. Quando me falam sobre a qualidade de vida destes países, tenho vontade de chorar. Mas temos que admitir que todos nós somos responsáveis, somos demasiadamente acomodados...

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  2. Guiomar, você tem toda razão... eu já fui bastante patriota, gostava de ressaltar as qualidades do meu país aos quatro ventos (qualidades algumas que ainda existem), mas de uns tempos pra cá, confesso que tenho pensado bastante em como seria viver em outro país que preze a educação, a intelectualidade, a cultura... não precisa nem ser do outro lado do mundo... o Chile aqui do lado já ganha disparado em educação ao menos...

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  3. Olá Vanessa, a impressão que tive ao ler o texto dessa autora é a de uma pessoa muito influenciada pelas condições em que viveu (me pareceu uma pessoa de classe média/alta que nasceu em uma cidade grande) e pelas notícias da mídia. Sim, porque talvez quando estava no Brasil faltou para ela perceber, primeiro, que no Brasil existem muitos Brasis...que em muitos locais existe essa mesma descrição de dia a dia, pessoas com rotinas mais tranquilas, que respeitam mais os outros, que desenvolveram valores pessoais elevados (porque nem sempre os recebemos do berço ou das pessoas com as quais convivemos, às vezes é necessário desenvolvê-los!)... sim, temos lugares muito tranquilos no Brasil, com baixíssimos índices de violência, com ar puro, com uma população inteligente e educada (não necessariamente através de diplomas). Quer saber? Tomara que ela não volte para o Brasil não...ou, se voltar, que venha para fazer diferença, venha entendendo que se ela nasceu aqui e notou que é necessário melhorias, "fugir" não é a atitude mais nobre. E se, então, ela mesmo não é assim tão perfeita, como exigir isso de outros ou até do próprio ambiente em que vive? Ah, e acima de tudo, que se voltar, alguém a ensine a importância de selecionar mais o que lê e o que assiste. A vida, inclusive o Brasil, é muito mais do que mídia...os problemas existem, mas eles devem ser avaliados sem tanta influência desse jornalismo marrom que nos persegue diariamente. Temos muita beleza nesse país... e olha que não sou nacionalista e nem estou falando da nossa natureza. A minha mensagem não só para ela como para todos os atuais "desanimados" com o lugar onde vivem é: entenda o seu país,leia história, busque informações. Aumente o seu mundo, sim, mas não necessariamente fora e sim dentro de você! "Seja a mudança que quer ver no mundo" já dizia Gandhi. E o mais importante, se conheça! Se você fizer uma autoanálise e observar que precisa de um outro tipo de vida para se sentir bem, seja inteligente para perceber que nem sempre isso vai ser possível onde está morando agora, mas isso não significa mudar de país. Abra os olhos para o que te rodeia, a felicidade pode estar bem mais próxima do que imagina, sem ter que se submeter a ser sempre uma estrangeira em terras distantes (já pensou nisso?). Não estou dizendo que mudar de país é ruim, mas o que tenho observado é que muitas pessoas estão é meio perdidas em relação a própria vida e projetam no lugar onde vivem essas insatisfações. Palavra de quem, apesar de já ter viajado para lugares lindos pelo mundo afora, não precisou disso para acordar. A oportunidade está em todo lugar, é só abrir os olhos.

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