Nos últimos
dias passei por uma experiência fantástica, que me fez sentir exatamente qual é
a dificuldade de um cristão deixar de “acreditar por acreditar”.
Quem me conhece
sabe que sou fissurada em arte. Tenho uma parede de quadros em casa,
representando cada época da história da pintura (renascentismo, impressionismo,
cubismo...), além das esculturas. Desde pequena tenho uma fascinação por uma
pintura específica: “A Criação de Adão”. Não sei se porque foi uma das
primeiras grandes artes que me foram apresentadas, mas não descansei enquanto
não fui até a capela sistina e tirei uma foto embaixo da famigerada pintura.
Acontece que eu
não acredito na criação do homem através de deus. E, na tentativa desesperada
de conciliar minha paixão por essa pintura e as minhas crenças pessoais,
cheguei por muito tempo a “interpretar” a pintura como uma demonstração de que
o homem está mais próximo de deus do que se imagina. Que se o homem pode tocar
a deus (como na pintura), talvez o homem esteja apenas a um passo de ser deus
e, com o caminhar da evolução, ele um dia chegará àquele estágio.
Sim, Michelangelo
daria gargalhadas! A verdade é que a mente humana é muito criativa e, quando o
desespero bate, criamos histórias como essa que eu criei, totalmente descabida,
para esconder o óbvio que eu não queria aceitar: a pintura que eu tanto gosto
representa uma idéia oposta ao que eu acredito.
Nos últimos
dias, me peguei decidindo se colocaria aquele quadro de volta na parede. Por
que manter uma representação daquilo que eu não acredito, só porque satisfaz um
desejo emocional pela beleza, pela estética que me atraíram naquela arte?
Com muito
pesar, decidi que aquele quadro que tanto admirei, por tantos anos, não tem
mais espaço na minha casa. Não posso inventar uma interpretação obviamente falsa,
só para justificar a minha vontade de manter aquela obra de arte na minha
coleção.
E quando
coloquei o quadro definitivamente atrás da porta, senti a dor e a angústia de
um apaixonado que, pela primeira vez, deixa a emoção de lado e raciocina sobre
o significado daquilo que adora.
Imagino como
deve ser difícil para um cristão (apaixonado) deixar de lado a emoção e o
conforto que uma boa história de “salvação pós morte” pode trazer, para
raciocinar sobre aquilo que está adorando e, finalmente, admitir que aquela
paixão é fruto, talvez, de um primeiro deslumbre por uma obra literária, que no final, não passa de uma simples obra de arte.
Muito bom!
ResponderExcluirAmei o texto instigante e faz pensar não só sobre as "paixões" condicionantes, mas quaquer afinidade cuja qual colocamos expectativas, seja por cultura, tradição ou amalgamada com nossas próprias experiências de vida.. Talvez crer mesmo só nos seios de nossa mãe, no "utero" de nosso pai, no demais só observação...
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